O Sacerdote Negro

Ou como uma longínqua Noite das Bruxas pôs A Gaja no bom caminho. Isto é, menos focada em tipos que não valem uma fungadela (quanto mais uma sessão de choro adolescente) e mais orientada para a escrita. Melhor para nós.

Festa de Halloween, 1999. Tenho 16 anos, estou na sala de convívio da escola, equipada a rigor com o meu fato de bruxa, chapéu pontiagudo incluído. E eis que ele chega, do alto dos seus pespinetas 18 anos. Loiro, lindo, alto, inacessível, vestido com um hábito de monge dominicano, a gargalhar com os amigos, completamente alheio à minha presença. Sinto um baque no coração, um fio imaginário de baba escorre-me pelo canto da boca. Sou incapaz de articular palavra. Estou apaixonada. E não sou correspondida.

15 anos depois, o balanço da minha paixoneta assolapada não podia ser mais positivo. Não fiquei com o gajo (na realidade, ficou a minha melhor amiga, que curtiu com ele numa festa de final de período, daquelas matinés organizadas pelas discotecas... episódio esse que me custou umas valentes horas a chorar baba e ranho), mas ganhei outra coisa bem melhor.

Pois é. A tal noite do Dia das Bruxas resultou na minha primeira aventura nas lides da escrita, um poema medonho, assim a atirar para o soneto, intitulado “Sacerdote Negro”. Acho que tenho a prova arrumada algures num caixote, uns versos muito sofridos, de idolatria teenager àquele que eu considerava o gajo mais giro da escola e uma sumidade em termos de beleza, inteligência & tudo o resto (e que o tempo provou não corresponder aos meus padrões estupidamente irreais).

Serve isto tudo para dizer duas coisas: a primeira é que de uma experiência menos positiva se podem tirar mais valias importantes para a nossa vida (se não fosse o gajo vestido de padreco naquela festa de Halloween eu não estaria aqui, agora, a presentear-vos com esta bela prosa). A segunda é que o Dia das Bruxas é espectacular. É assim uma espécie de hiato no ano civil, em que é permitido não só às crianças mas também aos adultos fazer figuras parvas sem que daí advenham consequências de maior.

Eu, por mim, mascarava-me todos os anos. Quem sabe se, um Halloween destes, não encontro outro sacerdote que me queira abençoar?

A autora e a página
"A Gaja" é uma página de entretenimento da autoria de Raquel Costa. Criada em fevereiro de 2014, tem hoje perto de 30.000 seguidores. Ela não tem papas na língua (fala de assuntos que muitos preferem ignorar) e não vai em falinhas mansas. É impiedosa, inteligente, direta. As suas dicas pretendem ajudar rapazes e raparigas a acertar agulhas.
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A Gaja 2014-1029

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