Taverna Antiqua

Banquetes medievais na casa do mercador 

À sombra do castelo, escudada pela estátua do fundador de Tomar, a Taverna Antiqua recria os tempos idos num edifício secular que outrora serviu de entreposto comercial. Sabores e ambientes medievais para descobrir à luz das tochas entre paredes de pedra e personagens da época. Na Cidade dos Templários há um restaurante digno de reis, nobres e cavaleiros.

Se estivéssemos na Idade Média bastava atravessar a Corredoura e deixar o cavalo à porta mas nos tempos que correm esta via histórica do Tomar (agora Rua Serpa Pinto) está fechada ao trânsito por isso é preciso estacionar o carro e ir a pé até à Praça da República. A Taverna Antiqua não passa despercebida e faz-se anunciar logo na esplanada (defronte para a estátua de Gualdim Pais, fundador da cidade), graças a uma vergonha (objeto que prendia os ladrões pela cabeça) e vários archotes que iluminam a fachada à noite.

Inaugurado em dezembro de 2011, o restaurante está situado num edifício com origens medievais que em tempos foi mercearia, talho e padaria. Desse tempo sobrou, por exemplo, o antigo forno comunitário e até uma argola em ferro onde o moleiro prendia o burro quando trazia a farinha. Apesar de totalmente remodelado, o restaurante manteve a alma e a arquitetura original, ou não tivesse sido fundado por dois licenciados em restauro do Politécnico de Tomar. Só a decoração já vale a visita por isso, antes de nos sentarmos à mesa, vamos descobrir cada canto do espaço, sem esquecer as casas de banho que já se toraram uma atração turística.

Entre bobos, trovadores e cavaleiros

A entrada na Taverna Antiqua faz-se por uma sala com paredes em pedra e mesas de madeira, utilizada sobretudo como bar e zona de petiscos. Do lado de lá do balcão, com um arco em mogno do século XVI, uma “taberneira” (trajada a rigor) dá as boas vindas aos visitantes, sejam eles clientes ou meros curiosos que incluíram o restaurante no roteiro de visita à cidade. Espera-os uma autêntica viagem no tempo com passagem por mais duas salas iluminadas quase exclusivamente por velas e tochas. Eis-nos na idade das trevas. De tempos a tempos, a Taverna Antiqua também recebe eventos e recriações históricas, animadas por inúmeras personagens da época, desde bobos e trovadores a princesas e cavaleiros.

Na primeira destas duas salas fica mais um par de mesas e um expositor com produtos alusivos à época, como garrafas de hidromel, coroas de flores, velas de cera de abelha e jogos medievais. Mas o que mais sobressai é um mapa de Tomar pintado na parede (tipo pintura medieval mas com o traçado atual da cidade), além das torneiras das imperiais, utilizadas como castiçais, por onde parece ter escorrido mais cera que espuma de cerveja.

Segue-se a sala de refeições, a maior do restaurante, onde reaparecem as paredes em pedra e os tetos e mobiliário de madeira. As mesas, algumas com capacidade para mais de uma dúzia de pessoas, fazem lembrar os banquetes da Idade Média e até os bancos corridos, cobertos com peles de animais, evocam tempos idos. É nesta divisão, sob um arco em pedra, que fica o antigo forno comunitário, hoje utilizado como lareira. Imperdíveis são também as casas de banho, tão ou mais fotografadas que o resto do espaço, com um original sistema de abertura (um pequeno saco com areia a servir de peso) e duas latrinas à moda antiga.

Comer como um rei e beber como um abade

Depois da viagem pelos ambientes, segue-se outra pelos sabores. Resultado de uma intensa pesquisa histórica, a Taberna Antiqua dá a provar uma refeição de cariz medieval, apenas com ingredientes da época. É por isso que as batatas, as cenouras ou os pimentos foram logo excluídos da ementa e o mesmo acontece com outros produtos trazidos das Américas após os Descobrimentos. É claro que na altura também não havia frigoríficos, por isso prepara-se para sabores doces e intensos, mesmo ao gosto dos “chefes” medievais.

Quem procura uma experiência completa deve começar pelas sopas, como o caldo de castanhas com cogumelos, e provar pelo menos uma entrada ou petisco, caso das petingas com escabeche, das aparas de borrego ou das pernas de rã. Nos pratos de carne merecem destaque o javali com molho de frutos do bosque, a empada de caça com legumes, o pernil de porco com castanhas e migas e a espetada mista com beringela grelhada. Quem preferir peixe pode optar por um bife de atum com molho à sarraceno ou pelo bacalhau com canela, esparregado grosseiro e frutos secos. E sobremesa, já havia na época? O creme de castanha, o doce de amêndoa e a pera bêbada provam que sim.

Em qualquer taverna que se preze não podem faltar as bebidas. Aqui o hidromel é rei e a cerveja artesanal rainha, servida sobretudo em três variedades: à camponês, preta e com adição de mel; de trigo, a mais original; e ruiva (tipo abadia) a evocar os tempos em que a cerveja era feita nos mosteiros. Os preços para uma refeição completa podem rondar os 15/20€ mas também há um menu de almoço (prato, pão, azeitonas e café) por apenas 8€. O imposto para o rei já está incluído.

Nelson Jerónimo Rodrigues 2014-07-22

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