Restaurante Substância - Lisboa

A Ribeira retro-cool

Produtos tradicionais servidos com criatividade, um mural de street art ao lado de artigos vintage e um ambiente sofisticado mas descontraído dão corpo a este restaurante que faz jus à nova zona trendy da capital: o eixo Santos/Cais do Sodré. Enquanto os opostos se tocam, o melhor da gastronomia nacional vai sobressaindo em pratos originais e provocatórios mas sempre com forma e substância.

Haverá outra substância culinária tão genuinamente portuguesa como o azeite? João Lobo Duarte, mais conhecido por Lobão desde que participou num conhecido programa de culinária, defende que não há igual na nossa cozinha. Foi este produto que deu origem ao nome e ao logótipo (uma molécula de azeite) do Substância, espaço inaugurado em junho de 2014 na Rua da Moeda, perto do Mercado da Ribeira, a meio caminho entre o bairro de Santos e o Cais do Sodré.

Mais do que um restaurante, este espaço representa o desejo deste antigo consultor em mudar de vida e fazer o que realmente lhe dá prazer: cozinhar, receber amigos, enfim, trocar os números pelos tachos em nome do deleite dos outros. O mediatismo televisivo deu-lhe o empurrão que faltava e nem a crise o demoveu deste sonho antigo, agora tornado real. Como diz a música dos Deolinda… “Se é pra acontecer, pois que seja agora!”

Das peças vintage ao mural de street art

Casa a casa, rua a rua, a zona de Santos/Cais do Sodré vai-se tornando cada vez mais cosmopolita e o Substância tem a sua cota parte de responsabilidade. Para lá de uma fachada discreta revela-se um espaço trendy e elegante onde cada objeto, do mais antigo ao mais moderno, guarda uma história para contar. Logo à entrada um candeeiro vintage aponta holofotes para três sardinhas estilizadas (em tecido) que dão o mote para o “cardume” da sala de refeições, transformado numa espécie de cortina.

O revivalismo e a portugalidade prolongam-se para o mobiliário, desde os sofás com padrões de outros tempos às mesas com tampos de xisto, e chega inclusive à casa de banho, onde um antigo tacho faz as vezes de lavatório e uma velha bandeja acabou transformada em espelho. Todos os dias o menu do dia é afixado numa grande ardósia, enquanto a iluminação fica a cargo de um imponente candeeiro retro com 40 abajures que torna o espaço (com capacidade para 49 pessoas) ainda mais intimista e acolhedor.

Mas também não faltam substâncias modernas, caso do cobre que reveste o balcão ou do micro cimento das paredes, uma delas com pequenas janelas quadradas que desafiam os visitantes a espreitarem a azáfama da cozinha. Mesmo assim, os principais toques de modernidade são oferecidos pela música (Lobão também é DJ) e, sobretudo, por um mural de street art (ao fundo da sala) assinado pelo artista Samina: duas mãos rodeiam e protegem o logótipo do restaurante (uma molécula de azeite) como que simbolizando o carinho da casa pelos produtos tradicionais portugueses. A prova iremos tê-la já a seguir quando provarmos as iguarias da casa.

Consubstanciar tradição e criatividade

Basta uma vista de olhos à ementa para percebermos que da cozinha saem pratos elaborados e com muita substância, fortemente influenciados pela gastronomia tradicional portuguesa mas salteados com um toque de inovação e criatividade. Assim acontece, desde logo, nas entradas com o torricado de bacalhau com compota de pimentos, o pica-pau de lombo com chips de batata-doce e pickle de couve ou com a farrafusa, espécie de ovo de tomatada com queijo de cabra.  

A carta varia de quatro em quatro meses mas tem sempre (pelo menos) uma dezena de pratos principais, confecionados pela chefe principal Filipa Ruas e restante equipa com a colaboração de Lobão. Entre os peixes destacam-se, por exemplo, o tamboril com migas de tinta de choco e molho de vinho branco ou o polvo com espuma de batata, espargos e tomate confitado, enquanto nas carnes salta à vista (e ao paladar) o naco de novilho com inhame frito e salada de pimentos bebé, a empada de rabo de boi com puré de pastinaga (espécie de cenoura) e salsa de agrião ou o pato com arroz cremoso de citrinos e tosta de paté de fígado.

Para acompanhar há cerca de três dezenas de vinhos à disposição, com preços que variam entre os 9€ (Pinta Negra branco ou tinto) e os 35€ do Cartuxa Reserva Tinto. Estes não estão incluídos no valor médio de refeição, a rondar os 20€, nem no menu executivo (só aos almoços) com uma opção (prato, bebida e café) a 8,5€ e com outra (acrescenta-se o couvert e a sobremesa) a custar 11€.

Por fim, não deixe de guardar um cantinho no estômago para a sobremesa e prepare-se para uma escolha difícil entre o pudim abade de Priscos com crocante e mousse de toranja, o pão-de-ló de Ovar com geleia de romã e pipocas caramelo e a delícia de ovos e amêndoa com sorvete de limão. Mas atenção porque estas (e as outras) substâncias são altamente viciantes. Quem lá vai uma vez, quer sempre voltar.

Nelson Jerónimo Rodrigues 2014-11-19

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