Praias que contam tradições

“Olh´á língua da sogra, pipooooca!”

Conhecidas pelo extenso areal que se prolonga, a norte, até Esposende e, a sul, até Vila do Conde, as praias da Póvoa de Varzim são das mais procuradas da região e a população mais do que duplica por esta altura. A água do mar é gelada e o clima muito ventoso, mas há qualquer coisa que convida sempre a voltar.

 

Há várias décadas que na altura do verão, particularmente no mês de agosto, a população cresce para mais do dobro. Poveiros emigrados que vêm visitar os seus entes queridos, ou famílias inteiras provenientes de concelhos vizinhos como Braga, Famalicão, Fafe ou Guimarães, adotam a Póvoa de Varzim como destino de férias e por lá ficam, às vezes o verão inteiro.

São cerca de 10 quilómetros de costa espalhados pelo concelho da Póvoa e as suas freguesias de Aver-o-Mar, Aguçadoura e Estela, refletindo-se num extenso areal que convida a banhos de sol, longos passeios à beira-mar ou mergulhos (mas neste caso, só para quem tiver coragem de entrar na água gelada).

Amizades para a vida

Aqui, ainda se montam as barracas como antigamente. A partir do dia 1 de junho e até 15 de setembro, há múltiplas filas de panos de cores garridas e largas riscas verticais que dão um colorido à paisagem. Servem para proteger da sombra, mas fazem muito mais do que isso. São testemunhas de histórias, de grandes amizades e acompanham a passagem de várias gerações de famílias por estas praias. Porque apesar de poderem ser alugadas ao dia (em média, entre 7 e 10 euros), à semana, à quinzena ou ao mês (pode chegar aos 300 euros em agosto), grande parte destas barracas ficam já reservadas de ano para ano, não só para quem as concessiona poder escolher a localização a seu gosto, mas também para garantir a vizinhança de sempre. Mais do que amores de verão, aqui vivem-se verdadeiras amizades estivais. Muitas delas nascem em crianças, a construir castelos na areia, e prolongam-se durante anos até se tornarem para a vida.

O mar, rico em iodo (e um dos motivos da grande procura destas praias), é de uma cor azul intensa, nem sempre calmo, batendo com intensidade contra as rochas – uma das características da paisagem poveira. A areia é grossa, diz-se até que é um bom esfoliante para os pés. Quanto ao vento, esse raramente falta pelo que é aconselhável, caso não alugue uma barraca, levar um corta-vento para ficar mais protegido.

Se lhe der a fome, não se preocupe. Quase de hora em hora passam vendedores que fazem notar a sua presença. Um dos mais antigos tem já a lengalenga estudada, e que perdura há anos: “Olh’á língua da sogra, pipooooca”. E, quem conhece o resto, não resiste a continuar: “Chora, chora, que a mãe dá… Se não dá a mãezinha dá o papá”. Língua da sogra, pipocas ou bolas de Berlim são doces que nunca faltam nestas praias.

Tradições que perduram

De sul para norte, as praias do Carvalhido, dos Beijinhos, da Lagoa ou da Fragosa, são algumas das que pode encontrar e, à medida que se dirige para a zona mais rural, em direção a Aver-o-Mar, talvez descubra outras tradições que, embora muito menos usuais, ainda subsistem. É o caso da apanha do sargaço. Recolhido do mar, talvez ainda consiga ver as salgadeiras a apanhar as algas com o ganha-pão (uma longa vara de pau que sustenta um saco de rede) ou uma pequena embarcação a recolhê-lo próximo da praia. Noutros tempos, era depois estendido no areal para secar e posteriormente utilizado para fins medicinais ou para a agricultura, como adubo. Mas a partir dos anos 90, a seca passou a ser proibida.

O mar, companheiro de todas as horas

Paralelos ao areal da Póvoa de Varzim, cerca de dois quilómetros de marginal convidam a longos passeios com vistas largas para o oceano. O mar é a alma do poveiro e a personagem principal da cidade pois a vida de quem cá mora é estruturada em seu proveito. Muitos vivem do que ele lhes dá, outros dele usufruem para a prática de desporto (a pesca desportiva e, mais recentemente, o surf são os preferidos) e alguns apenas gostam de por ali ficar a contemplar a paisagem.

Com uma via ciclável, a marginal prolonga-se até à vizinha Vila do Conde perfazendo um total de mais de cinco quilómetros de um percurso com um grau de dificuldade reduzido, já que é completamente plano. Basta o sol espreitar e logo a avenida se enche de gente para caminhar, correr e andar de bicicleta ou de patins.

Sendo esta uma terra de pescadores, visitar a Póvoa de Varzim é também provar a tradicional sardinha assada, o carapau ou a pescada à poveira. A frescura deste pescado é o selo de garantia nos vários restaurantes que pode encontrar. Mas se não aprecia peixe, não seja por isso. A francesinha é também um dos ex-líbris do concelho e, só por si, vale a pena a visita. Como vê, motivos não faltam para escolher ir a banhos nas praias da Póvoa. Aliás, o lema do município é mesmo esse, “É bom viver aqui”…

 

Ana Marta Monte

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