Pedreiras de Borba

Já visitou alguma pedreira? São 90 metros a pique até ao fundo. Depois, camiões, gruas e calhaus estão sempre a girar de um lado para o outro. Há pó por todo o lado mas no final vem o merecido banho de ar comprimido.

Em Borba ainda temos dúvidas se podemos ou não visitar as pedreiras. Pergunta-se e a resposta é afirmativa, «claro que sim, não se esqueça é de pedir a alguém que lhe explique», diz o velhote que encontramos na rua.

Parte-se mas nem se vai muito longe pois apenas quatro quilómetros separam Borba e Vila Viçosa. E é nesta curta distância que cerca de uma dúzia de pedreiras labutam incessantemente.

No horizonte, torres de ferro erguem-se, como num campo de petróleo no médio oriente. Não são torres de petróleo, são as gruas para içar o mármore do poço. Por todo o lado há grandes montes de entulho, máquinas e camiões carregados de mármore que correm para cima e para baixo, numa azáfama. Fazem pó e ruído mas a coisa mexe.

Da estrada, escolhe-se aleatoriamente alguma pedreira e entra-se. De preferência, daquelas que se veja logo os escritórios à entrada pois torna-se mais fácil conseguir um guia. Antes de tudo, somos logo atraídos a espreitar o poço.

O poço

Chega-se junto ao parapeito e olha-se lá para o fundo. Não é bem um poço e se lhe chamássemos cratera seria mais acertado. Até ao último piso são cerca de 90 metros, sempre a pique. E esta, a Marmetal, até nem é a pedreira mais profunda da região. Lá em baixo, dois homens parecem formiguinhas a caminhar sobre um torrão de açúcar. Mas na realidade são dois trabalhadores que andam sobre um bloco de mármore com seis metros de altura.

Aliás, é curioso verificar o recorte da parede que tem a forma de tijolos, pois este é o formato pelo qual cortam a pedra. Geralmente, a pedreira desce dois pisos por ano. Da plataforma de ferro suspensa sobre o poço sente-se o vento a assobiar. É segura mas as vertigens ainda apertam. Enfim, falta de hábito.

Tentamos relaxar e observar bem a pedreira. Em forma de semi-circunferência, uma estrada de terra batida vai ao fundo, no último piso. Só quem trabalha é que está autorizado a descer de jipe para ir buscar os homens, assim como os camiões especiais que vão lá buscar 30 toneladas de entulho. E sobem carregados ao máximo, devagar, mas sobem, desafiando qualquer lei da gravidade.

N'Dalo Rocha 2002-10-15

Receba as melhores oportunidades no seu e-mail
Registe-se agora