Ozadi Heart & Soul Tavira Hotel

Ousadias com espírito trendy

O primeiro hotel de Tavira fez um lifting profundo, mudou de nome e ganhou mais uma estrela, tornando-se num dos quarentões mais apetecíveis do Algarve. Sedutor por natureza, o edifício dos anos 70 manteve o charme do passado e o ambiente revivalista mas ganhou um rasgo de irreverência graças ao novo restaurante que parece suspenso no ar. Mais do que um flirt de verão, o Ozadi apaixona em qualquer altura.

“Ozadi”, bem pode procurar esta palavra no dicionário que não vai encontrá-la. Para descobrir o seu significado terá de rumar até ao sotavento algarvio e sentir na pele o espírito do novo Ozadi Heart & Soul Tavira Hotel, cujo nome é uma alegoria à ousadia, à alma e à paixão, cruzadas com as sonoridades árabes que tanto marcaram estas paragens.

Situada entre o mar e a serra, junto à Estrada Nacional 125, esta unidade reaberta em junho de 2014 é a legítima herdeira do antigo Eurotel Tavira, o primeiro hotel da cidade, inaugurado no início dos anos 1970 quando o turismo na região ainda dava os primeiros passos. Desses tempos manteve-se o mais icónico – o edifício principal, uma enorme árvore-da-borracha e, claro, a tranquilidade – mas ganharam-se 1001 novos argumentos que lhe valeram mais uma estrela (passou de três para quatro) e, sobretudo, o estatuto de hotel mais trendy do concelho. Afinal, o estilo do passado também está na moda.

Alma algarvia em corpo retro

Quem chega à Quinta das Oliveiras (a localização exata do hotel) não se apercebe logo do quanto mudou este local. O edifício principal de três andares continua a dominar o espaço, mas junto a ele nasceu uma moderna estrutura que começa por parecer sóbria e discreta, o fator wow acontece de outro ângulo. Por isso seguimos sem mais demora para a receção onde, aí sim, descobrimos o novo conceito do Ozadi.

A cortiça que reveste o balcão de boas vindas dá o mote para a decoração do hotel, assinada por Verónica de Mello e Lara Matos, que fizeram questão de oferecer o devido protagonismo aos produtos e ao artesanato regional e nacional. Cestos em vime, alqueires, loiça Bordalo Pinheiro e olaria de artistas locais marcam presença no salão comum (junto à entrada), lado a lado com inúmeras peças vintage e mobiliário retro, algum recuperado, outro ainda a cheirar a novo mas com design de inspiração revivalista.

O mesmo acontece no alojamento, dividido por 77 confortáveis quartos, onde sobressaem as imitações de platibandas (murete na parte mais alta de uma fachada) colocadas sobre as camas. A estas juntam-se ainda os mosaicos em chão hidráulico produzidos em São Brás de Alportel e os candeeiros de cortiça e loiça pintada à mão, criados por dois projetos - Caco e TASA - que conjugam o artesanato tradicional (materiais, técnicas, saberes e fazeres locais) com a inovação estratégica (design, história do produto e embalagem). No fundo, a síntese perfeita do que é este hotel.

Sabores mediterrânicos entre extremos que se atraem

A nova vida do hotel também trouxe espaços e serviços à medida dos novos tempos, como massagens nos quartos, um fitness room com banho turco e um kids club com babysitting, além de transporte gratuito para a praia mais próxima (Cabanas de Tavira, a cinco minutos) e localidades vizinhas. Mas são os dois restaurantes que mais impressionam os visitantes, num curioso antagonismo que vai da história e localização aos conceitos e ementas apresentadas.

No topo do edifício principal fica o Terrace bar/restaurante (onde também são servidos os pequenos-almoços) que soube conservar toda a aura do passado. Azulejos em estilo mourisco, um balcão corrido com bancos retro, candeeiros antigos e até uma velha balança de mercearia compõem o espaço e ajudam a desfiar memórias de outros tempos. Um espaço descontraído com buffet de cozinha internacional e vistas de camarote para o mar, para a ria e para as salinas da Tavira. Quer melhor tempero que este?

Mais sofisticado e cosmopolita é o Orangea Bistro, nome inspirado num licor de laranja feito pela proprietária do hotel. Neste restaurante, situado numa nova e moderna estrutura em betão, serve-se sobretudo cozinha de cariz mediterrânico (seja na carta de tapas ou na ementa principal) que junta alguns produtos regionais e nacionais a outros de paragens mais longínquas. Assim acontece, por exemplo, nos filetes de foie gras com laranja caramelizada em redução do vinho do Porto (entrada), no carré de borrego ao tomilho com couscous de legumes e menta (prato de carne), na cataplana de tamboril e carabineiros à Atlântico (prato de peixe) ou no crepe com licor Orangea (o tal) com gelado de laranja. Já os vinhos são exclusivamente nacionais, num total de meia centena de referências, algumas servidas a copo. 

Mas não é só pelos sabores que o Orangea se tornou na principal joia da coroa deste hotel. A fama chega-lhe também da arquitetura e da engenharia deste invulgar edifício, assente em grande parte num único pilar de betão. Visto das piscinas, do terraço ou dos jardins (mais três locais que convidam à preguiça) o moderno restaurante quase parece flutuar, pairando à sombra de uma centenária árvore-da-borracha. Extremos opostos que se atraem mutuamente e que, ao mesmo tempo atraem os visitantes. O mar e serra estão à distância de um terraço mas o equilíbrio entre o passado, o presente e o futuro está aqui, ali e em todo o lado. 

Nelson Jerónimo Rodrigues 2014-11-18

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