O fado está na moda

Alguma vez visitou o Panteão Nacional? Catarina Delgado, do blogue Catrenata, vive em Lisboa mas nunca tinha lá entrado, como muitos lisboetas. Para colmatar essa falha, empreendeu uma visita em família. Cheia de revelações e promessas.

por Catarina Delgado

O fado está na moda, mas eu não gosto de fado. Deve ser trauma de infância! Lembro-me de ser miúda e passar horas a fio em casas de fado com os meus pais, em jantaradas com amigos. A minha geração dormia em cadeiras colocadas lado a lado nos restaurantes, enquanto os pais se divertiam, bebiam e fumavam. Hoje em dia, seriam presos!

Do que realmente não gosto nas casas de fado, é de não poder falar enquanto cantam. Já experimentei depois de crescida... Uma pessoa bebe um copo, fica cheia de vontade de dizer coisas ao mundo. Ao mundo e aos comensais que partilham a mesa. Shiuuuuu!!!

Apesar de não gostar de fado, tenho de admitir que há fadistas desta nova geração que me tocam.

Adoro a energia de Ana Moura, com o seu irresistível "Desfado".

E quem pode resistir à profundidade de "O tempo não para" de Mariza? Totalmente Mindfulness!

Não sei se andei depressa demais
Mas sei, que algum sorriso eu perdi
Vou pedir ao tempo que me dê mais tempo
Para olhar para ti
De agora em diante, não serei distante
Eu vou estar aqui

Falar de fado sem falar de Amália é quase impossível. Amália Rodrigues mostrou Portugal ao mundo, num tempo em que Portugal era invisível. Amália Rodrigues foi tão poderosa que conseguiu ser a primeira mulher no Panteão Nacional!

Nasceu em 1920. Oficialmente a 23 de Julho, mas parece que celebrava o seu aniversário no primeiro dia desse mês. Talvez seja por isso que, em vez de celebrar o seu nascimento, se celebre a sua morte… Amália morreu há 15 anos.

Em família fomos visitar o Panteão Nacional. Eu nunca lá tinha entrado, o Pai Rui nunca lá tinha entrado e o Tomé também não.


CATARINA
Sabes o que é o Panteão?

TOMÉ
É onde as pessoas famosas estão.

CATARINA
A Amália Rodrigues foi primeira mulher a vir para o Panteão… Será porquê?

TOMÉ
Como só os rapazes trabalhavam seriam mais importantes…


TOMÉ (vendo a cúpula)
Se há um tremor de terra, ui ui… Olha lá a trabalheira que isto deve ter dado!

Logo à esquerda encontrámos os primeiros túmulos: Afonso de Albuquerque, Vasco da Gama, Nuno Álvares Pereira… Quis saber o que todos fizeram para estar ali. Chamou-me a atenção para o Camões: “Já viste o Camões?” Na verdade, era dos poucos que ele conhecia!

Passeámos pelo Panteão, por todos os corredores e escadarias…

TOMÉ (No sinal de proibido)
Era giro se pudéssemos subir...

O miúdo aprende… Estou sempre a dizer-lhe que as regras servem para ser quebradas!

Demos tantas voltas que o Tomé teve medo de se perder! A visita ao Panteão foi assim uma espécie de aventura!

Só quase no final encontrámos a Amália. Salvo seja!

Subimos até ao 5º andar. Num percurso duro para as pernas, com 163 degraus contados pelo Tomé, mas compensador. A vista é impressionante! Lisboa é linda!

O Tomé anda em treinos intensivos de pinos e rodas. Passa horas por dia aos pinotes… Aquele terraço deu-lhe energia e fez rodas e pinos e pinos e rodas. E declarou:

TOMÉ
Por conseguir fazer isto tão bem ainda vou ficar aqui, no Panteão!

O meu filho tem um novo objectivo de vida! Não há nada como pensar em grande!

 

A autora e o blogue
Em setembro de 2013, quando o filho entrou para o 1º ano, Catarina Delgado decidiu lançar o catrenata onde vai contando pequenas histórias do quotidiano numa coletânea cujo título poderia bem ser "como educar crianças felizes". Interessada e autodidata em questões de educação, Catarina é produtora de TV e vive em Lisboa com o marido Rui e o filho Tomé.

Textos anteriores no Lifecooler:

Amalfi é indali!

2014-10-08

Receba as melhores oportunidades no seu e-mail
Registe-se agora