Mata Bicho Real Taverna - Leiria

Queres petisco? Toma!

Situada no coração de Leiria, esta casa inspirada nas antigas tabernas recupera as iguarias do passado e serve-as em forma de petisco ou refeição completa. Sabores revivalistas e com decoração a condizer onde nem falta a companhia do Zé Povinho ou do Menino da Lágrima. Encontrar um restaurante sofisticado mas de comer e chorar por mais deixou de ser um bicho de sete cabeças.

O ano de 2011, quando a moda das tabernas gourmet ainda não tinha chegado a Leiria, marca o arranque desta casa em plena Praça Rodrigues Lobo, o mais famoso e concorrido ponto de encontro da cidade. Fica situada no histórico edifício Zuquete (nome de uma das famílias que o habitou) desenhado no início do século passado pelo arquiteto Ernesto Korrodi e sede até 1950 do Grémio Literário e Recreativo.

Por lá também passaram vários espaços comerciais mas o Mata Bicho é o primeiro dedicado aos comes e bebes. Em poucos anos tornou-se uma referência no centro histórico e conseguiu o (raro) feito de agradar a clientes de todas as idades, classes sociais e credos culinários. Entre tantos monumentos o património gastronómico desta taberna é mais uma boa razão para visitar a cidade de Leiria.

Uma taberna portuguesa, com certeza

A inspiração do Mata Bicho começa por revelar-se no mobiliário e na decoração, composta por 1001 objetos antigos que remetem para o imaginário das tabernas tradicionais. Entre o teto de madeira e o chão em mosaico hidráulico, o balcão corrido e as mesas com tampo em mármore, encontramos garrafões de vinho, cabaças e posters de touradas, sem esquecer o inevitável Zé Povinho para mostrar que a casa não há fiado.

A estas recordações juntam-se outras relíquias que fazem lembrar a casa dos avós, como os quadros do Menino da Lágrima e da Última Ceia, marmitas, uma bengala ou um rádio vintage. Mais inusitada é a bicicleta (tipo pasteleira) suspensa à entrada da sala enquanto na outra ponta está uma enorme pintura onde algumas personagens históricas de Leiria (como a rainha Santa Isabel, Eça de Queiróz ou o Padre Amaro) aparecem representadas com as caras de amigos e familiares do proprietário do Mata Bicho.

Um pouco por toda a sala surgem ainda vários quadros em ardósia, uns com a lista de petiscos e iguarias, outros com poemas e frases que evocam a alma castiça e popular da casa. Entre elas, ficou-nos na memória uma de Júlio César Machado, escritor do século passado para quem “o povo gosta de teatro com moderação, vai ao circo de tempos a tempos mas gostar gostar é da taberna”. Foi escrita em 1874 mas hoje não estará muito longe da realidade.

Mesa farta e bem composta

Não é só a decoração que nos remete para as memórias do passado. Também a ementa, baseada nos paladares de outros tempos e nos produtos portugueses, faz lembrar a comida da avó: caseira, saborosa e feita com amor. Aqui e ali acrescentam-se uns toques mais contemporâneos e sofisticados (a combinar com boa parte da clientela da casa, jovem e urbana) mas o receituário tradicional português está sempre em larga maioria.

Assim acontece, desde logo, na lista dos petiscos (o ex-líbris da casa) onde saltam à vista as trouxas de alheira com espinafres, os enchidos assados no forno a lenha, a favada e os ossos do espinhaço, apenas alguns exemplos ente as mais de três dezenas de sugestões à disposição. Quem preferir pode optar por refeições completas, servidas em doses generosas para uma ou duas pessoas. Nos peixes destacam-se o bacalhau da taverna, o polvo à Mata e a cataplana do mar, enquanto nas carnes vale a pena provar, por exemplo, o Mata bife, as espetadas terra & mar (lombo e gambas) e os secretos de porco ibérico.

Entre tantas iguarias tradicionais não se surpreenda com a extensa lista de pizzas e calzones. É que antes de ser taberna esta casa estava pensada como pizzeria, por isso, seria uma pena desperdiçar o forno a lenha que já tinha sido instalado com esse propósito. Por fim, guarde um cantinho no estômago para as sobremesas, como o creme queimado, o doce de amêndoa ou a fatia de bolo caseiro. E porque de uma taberna se trata não podia faltar o vinho, aqui proposto em mais de 60 referências. Brindemos, então, ao Mata Bicho.

Nelson Jerónimo Rodrigues 2015-04-29

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