Marie à Lisbonne

Um corte de cabelo no aconchego do lar

Esqueça a música alta, a banda sonora dos secadores, o corte de cabelo a despachar e as muitas horas de espera. Aqui a conversa, ou melhor, o corte é outro. E tem um simpático sotaque francês.

Já trabalhou com alguns dos mais conceituados cabeleireiros mundiais como Jean Marc Argillet, Jacques Dessange ou Jean Louis David. Passaram pelas suas mãos os cabelos de modelos tão famosas no mundo, como Claudia Schiffer ou Linda Evangelista. Mas Marie Sabatier trocou todo esse glamour por Lisboa.

A paixão surgiu depois de abandonar os afamados salões de França e começar a percorrer o mundo como formadora, por sugestão do seu mestre, Jacques Dessange. Levando uma vida quase nómada, passou por locais tão díspares como Buenos Aires, Quebec, Moscovo, Barcelona ou Saint-Tropez, e eis que surge Lisboa. Que nunca mais abandonou. Marie recorda, saudosista, a viagem que fez desde Barcelona num camião que transportava todas as suas tralhas e como, na companhia do seu gato, foi tão bem recebida e acolhida em Portugal.

Durante 10 anos, deu a conhecer a sua técnica de corte no WIP-Hairport (junto ao Elevador da Bica) e no Facto Cabeleireiro, situado no Bairro Alto. Quase instantaneamente conquistou clientes e amigos fazendo o que melhor sabia: esculpir, delinear, moldar cabelos, como se de uma artista se tratasse. O seu jeito natural e especial de criar um penteado surgiu era ainda jovem e foi sendo apurado nos locais por onde passou, oferecendo agora uma base clássica francesa em perfeita sintonia com técnicas inglesas mais tradicionais.

Mas, a certa altura, Marie teve que viajar para a sua terra natal. Depois de uma curta e forçosa estadia foi convidada a voltar, no verão de 2014, a pedido de uma antiga cliente que em momento algum teve intenção de encontrar uma substituta para cuidar do seu cabelo. Propôs-lhe uma sociedade entre Marias (partilhavam o mesmo nome) e a francesa, com vontade de voltar, não conseguiu recusar o convite. Surge então o Marie à Lisbonne em tempo recorde, a 8 de dezembro de 2014, quatro meses depois da proposta.

Uma cabeleireira ou uma amiga?

Ao passar a porta nº17 da Rua Marcos Portugal, perto da Praça das Flores, imediatamente se percebe que o Marie à Lisbonne se distancia dos salões de cabeleireiro tradicionais. Será recebida com um sorriso, dois beijinhos e um abraço. Marie é assim, mesmo que a esteja a visitar pela primeira vez. O seu jeito simpático e atencioso faz-nos sentir como se estivéssemos a entrar na sua própria casa, como se de uma amiga se tratasse, e a intenção é mesmo essa.

Num ambiente acolhedor, uma poltrona convida a sentar e aproveitar o quentinho da lareira enquanto aconchega o estômago com um delicioso macaron – ou um chocolate se preferir – acompanhado de um café. Tudo para a fazer sentir confortável e esquecer o medo que um corte de cabelo lhe poderá proporcionar.  

O momento tão aguardado

Chegou a hora do veredicto final. Por esta altura já estará rendida ao ser humano de Marie. Falta saber se ficará também pelo seu lado mais profissional. Uma poltrona moderna, com um certo toque vintage, chama por si enquanto lhe é colocada aos ombros uma bonita toalha turca, uma herança dos tempos de viajante de Marie. Porque aqui tudo é pensado ao pormenor.

Passando agora para a outra sala, terá apenas uma cadeira e um grande espelho onde Marie tratará de si. Este é o seu momento. Nada de música, nada de burburinhos e todo o tempo do mundo. É aquele instante em que a artista se concentra em si e nada mais. Inicialmente, Marie irá perguntar-lhe o que gostaria de fazer ao seu cabelo, mas a resposta que está acostumada a ouvir é um simples “confio em si”. Afinal, é para isso que os amigos servem, não é verdade?

A cabeleireira começa então a cortar e moldar cada madeixa revelando a sua experiência e desenvoltura. Apesar de não divulgar segredos, sabemos que estão intimamente relacionados com a simplicidade e naturalidade com que trata cada penteado. Porque aqui, respeita-se a essência do cabelo. Não há colorações e muito menos ferros de alisamento. Há, isso sim, um respeito pela autenticidade.

Com reserva não há correrias

Com descanso semanal à quarta-feira, Marie atende apenas por reserva entre as 14h e as 21h30. Recebe habitualmente uma pessoa por hora, não só para uma melhor organização pessoal (uma vez que está sempre sozinha no salão), mas também para que possa estar tranquila e inteiramente dedicada à cliente naquele momento. São maioritariamente mulheres, mas os homens também confiam na sua tesoura. Um corte feminino custa 38€, já o masculino fica-se pelos 33€. Para as crianças é 15€ e um brushing 25€.

Resta apenas deixar-lhe um convite: visite a Marie. Ela vai gostar de a receber com um sorriso. E a simpática Corie também, se lá estiver. Depois de ter sido adotada a um sem-abrigo, a cadela tornou-se a sua companhia inseparável. 

Ana Marta Monte

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