Dinastia Tang

A genuína gastronomia chinesa

Neste restaurante não há crepes fritos, shop suey, cascatas coloridas e outras “invenções” ocidentais mas pratos chineses autênticos, muitos deles uma novidade em Portugal. O Dinastia Tang transformou um armazém de vinhos num templo imperial onde a decoração e a gastronomia dão a conhecer o lado mais desconhecido da China, sem clichés ou preconceitos. E tudo começou com uma história de amor…

Destino, coincidência ou efeito borboleta, a verdade é que um simples cruzar de olhos em Suzhou, na China, poderá mudar a forma como os lisboetas encaram a gastronomia e os restaurantes chineses. Foi na chamada Veneza do Oriente, a mais de 10 mil quilómetros de Portugal, que a estudante Marisa Cerqueira e o dono de uma loja de artesanato Bilnlu Zhu, se apaixonaram e casaram.

Em 2007 decidiram viver em Lisboa, onde ele abriu um estúdio de fotografia especializado em casamentos da comunidade chinesa. Centenas de banquetes depois o casal percebeu que faltava na cidade um espaço para eventos ao gosto oriental e, mais ainda, um restaurante que mostrasse aos portugueses a genuína gastronomia chinesa. E por que não juntar os dois no mesmo espaço? A resposta foi encontrada no Poço do Bispo, num antigo armazém de vinhos que hoje evoca uma das mais longas e prósperas dinastias chinesas.

Viagem à China profunda

Quem passa pela Rua do Açúcar (paralela à Avenida Infante Dom Henrique) dificilmente imagina que aquele discreto edifício cor de rosa guarda um dos mais bonitos restaurantes chineses do país. Contrastando com o salão de casamentos no rés-do-chão (demasiado exuberante para a estética ocidental) a sala de refeições do primeiro piso faz lembrar um templo milenar, envolto numa aura de mistério e majestosidade.

A decoração, toda oriunda da China, começa por levar-nos até ao período da dinastia Tang (do ano 618 a 917) com painéis de pedra logo à entrada que recordam os trajes e os penteados femininos dessa época, e uns passos depois e damos mais um salto no tempo rumo à dinastia Ming (1368 a 1644), presente nas mesas e cadeiras. A imensidão geográfica da China também está representada neste restaurante, desde as esculturas oriundas do norte do país ao artesanato em banho de prata de Guizhou, no sul, que dá a conhecer a cultura de uma das 56 minorias da China, os Miao. 

De Pequim chegaram alguns candeeiros e de Suzhou dois grandes Budas e várias cabeceiras de camas antigas (originais) que servem de divisória às mesas mais resguardadas. Em forma de arcada e com cores esbatidas pelo tempo são talvez os elementos mais marcantes do espaço, emprestando-lhe um toque acolhedor, intimista e quase secreto, a fazer lembrar os filmes chineses antigos. Não é por acaso que entre tantos lugares à disposição (cerca de 120) aqueles são sempre os primeiros a serem ocupados.

Gastronomia cantonesa e não só

O ambiente e a decoração oferecem um caráter singular ao Dinastia Tang mas é a gastronomia que o torna único. Desde o primeiro dia (9 de maio de 2014) que a casa promete servir apenas a original comida chinesa, tal qual a que se faz no país. A única concessão a esta regra foram os gelados fritos, não só porque muitos clientes o pedem mas sobretudo porque a China não tem muita tradição em matéria de sobremesas. Já os crepes fritos, os chop suey`s e outras “invenções ocidentais” ficaram desde logo excluídos.

Na ementa há alguns pratos mais clássicos e que todos já ouviram falar, como o pato à Pequim ou o porco agridoce, mas muitos são totalmente desconhecidos da maioria dos clientes, a começar pela raiz de lótus com mel que encabeça a lista de entradas. Cozinhada durante quatro horas e servida com arroz glutinoso é ideal para quem gosta de experimentar novos sabores e, em matéria de exotismo, só encontra paralelo nas línguas de pato com aroma chinês.

Entre os pratos de carne destaca-se a mão de porco com molho abalone (à base de marisco), o frango com tâmaras chinesas e bagas goji, o entrecosto à Hong Kong, a beringela com carne agridoce e o frango à Sichuan (picante), uma das quatro regiões que mais influenciou a culinária chinesa, juntamente com Pequim, Suzhou e Cantão (a mais representada no Dinastia Tang).Quanto aos peixes e mariscos, vale a pena experimentar a garoupa com alho chinês, o peixe agridoce e o caranguejo salteado com cebolinho. Como amostra da (pouco expressiva) doçaria típica chinesa dá-se a provar o doce de leite frito e as bolinhas de arroz glutinoso com recheio de sésamo e amendoim. 

Nas bebidas, as marcas portuguesas (vinhos e cervejas) têm a companhia do leite de coco e da cerveja chinesa mas a estrela desta seção é o chá (frio ou quente), servido em inúmeras variedades e com nomes bem sugestivos, como Deusa da Misericórdia, artístico de flor ou do Lago Oeste Longling. 

Um mestre a servir o imperador

O Dinastia Tang já começou a dar que falar mas a última novidade do restaurante – os dim sum - promete atrair ainda mais adeptos dos sabores orientais. Desde finais de junho que a casa tem um cozinheiro dedicado exclusivamente a esta especialidade, mandado vir de propósito da China. Mais uma vez a ideia é dar a provar “os dim sum mais autênticos de Lisboa” confecionados pelas mãos de um mestre com duas décadas de experiência.

Em breve haverá também concertos ao vivo com cantores e músicos orientais, para que a visita ao Dinastia Tang seja uma experiência total e irrepetível. Restaurantes chineses há muitos, mas este ambiciona o trono de imperador.

Nelson Jerónimo Rodrigues 2014-07-01

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